Devemos aprender a administrar melhor o nosso tempo
Uma das grandes lutas que o homem moderno trava, diariamente, é conciliar o seu tempo
com as inúmeras atividades impostas, às vezes, por ele próprio. Vê-se
constantemente diante de duas opções: fazer as pazes com o tempo e o
acolher como amigo conselheiro, ou tê-lo na qualidade de rival e passar a
vida lutando contra ele.
O fato é que, cada vez mais, o tempo
é alvo de empreendimentos e, por sua tão grande importância, consegue
até definir estilos de vida. É comum vermos pessoas caminhando
apressadas e buscando meios que antecipem a realização de seus desejos.
Drive-in, caixa eletrônico, internet, automóveis, aviões, etc.. Citando
apenas alguns itens, da infindável lista de opções modernas, criadas
pelo ser humano com o objetivo de “facilitar a vida” e ganhar tempo.
A praticidade da vida moderna melhora ou atrapalha?
É verdade que, estamos em uma época na qual a modernidade favorece
uma vida mais prática, mais leve, porém, tem (como em todos os casos)
seus excessos. A alegria de receber uma carta que vem pelo correio, por
exemplo, foi substituída pelas conversas on-line, que movidas pelos
impulsos e pela pressa, nem sempre expressam a linguagem real do
coração. Esperar numa fila de banco ou supermercado, por exemplo, é um
sacrifício fora do comum para muitos e quando, num balcão ou ao
telefone, alguém pede “um momento, por favor”, dependendo do caso,
parece uma “martelada” que não se pode suportar. Seria tudo isso normal,
ou estamos mesmo infectados pelo “vírus da falta de tempo”?
Sempre ouvi dizer que, “tempo é uma questão de prioridade”. Até
concordo! Mas, como descobrir o que é prioridade a cada fração de
segundo? Eis o grande desafio de quem, como eu, leva a vida tentando
fazer as pazes com o tempo.
Os sábios ao longo da história sempre falaram da preciosidade que o
tempo esconde, e posso afirmar que tenho colhido bons frutos das esperas
que a vida me oferece.
Deus, sabendo das minhas lutas, “visitou-me” outro dia, quando estava
bastante atarefada e angustiada, por não conseguir ajustar minhas
atividades com o tempo. Por isso, falarei de uma fábula que li em um
folheto da liturgia diária.
Diz a história que o Arcanjo Gabriel
fora enviado por Deus para conceder o dom da vida eterna a quem tivesse
um pouco de tempo disponível para recebê-lo. O Arcanjo partiu animado
com o desejo de distribuir o dom a todos, já que lhe era dado o direito.
Porém, à noite, regressou para Deus com o dom ainda intacto nas mãos.
“-Não encontrei ninguém que tivesse um pouco de tempo, Senhor.
Estavam todos agarrados ao passado ou a pensar no amanhã”. Disse com
tristeza o Arcanjo a Deus, devolvendo-lhe o dom da vida eterna.
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Quais são as nossas prioridades?
No mesmo folheto, o padre Clemente Rebora, acrescentou seu comentário
a esse assunto, dizendo que devemos estar sempre muito atentos com
relação à prioridade do que fazemos a cada instante. Pois, ter saudade
do passado, evadir-se do presente e preocupar-se exageradamente com o
futuro, são as três armas que o inimigo de Deus mais utiliza para perder
nossas almas. E cita o “agora” de Maria como exemplo, por excelência,
de disponibilidade e discernimento à voz de Deus, virtudes essas que
devem ser seguidas por cada cristão.
A meu ver, o tempo continua sendo um mistério digno de atenção; saber
lidar com ele é uma bela arte, da qual somos eternos aprendizes.
Pensando sobre isso, chego à conclusão de que o tempo pode ser comparado
a uma mala de viagem, dentro da qual “por impulso” colocamos várias
coisas, algumas até inúteis, e, rapidamente, declaramos “já não cabe
mais nada!” Daí, percebemos que coisas essenciais ficaram para trás,
então voltamos a abri-la, reorganizando os espaços, dobrando melhor as
roupas e tirando os excessos. Para nossa surpresa e felicidade,
finalmente, constatamos que coube tudo e até sobrou espaço.
Acredito que, hoje mesmo, se revisarmos nossa vida com calma,
colocando cada coisa no seu devido lugar, e tirarmos os “excessos”,
dando prioridade ao que é essencial, também vamos constatar, com
alegria, que temos tempo para tudo e ainda nos sobra.
Mas uma coisa é certa: o tempo não espera por ninguém, e saber
aproveitá-lo enquanto o temos “em mãos” é o caminho seguro para uma vida
feliz. É a sabedoria divina que nos faz compreender o que deve ser
feito a cada momento, e nos recorda que “para tudo há um tempo, para
cada coisa há um momento debaixo dos céus (…)” (Eclesiastes 3:1).
Creio que vale a pena revermos nossas vidas à luz do Espírito Santo, e ficarmos mais atentos e disponíveis para acolher os “Anjos que o Senhor envia até nós”, com seus presentes.
Se for preciso esperar um momento, hoje, esperemos com calma, sabendo
que a espera pode revelar novos horizontes, fazendo-nos compreender o
que é essencial.
Que o Senhor nos ensine a arte de viver bem e conciliados com o tempo e suas surpresas.
Fonte: Canção Nova